Instituído em 1936 pelo Ministério da Educação e Saúde, o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE) foi o primeiro órgão estatal brasileiro voltado para o cinema. Em três décadas de regular atividade, o INCE constituiu um extenso catálogo de filmes, que compõem um raro repositório audiovisual das transformações e permanências históricas da sociedade brasileira.
"Foi no INCE que Mauro garantiu a continuidade de sua obra e, embora esquecido pela maioria da crítica, cineastas e produtores, suas curtas metragens garantiram quase sozinhas, durante as últimas décadas, a presença da alma brasileira no cinema."
Ely Azeredo, crítico. In: Tribuna da imprensa, 27 de setembro de 1961.
Idealizado e dirigido pelo professor Edgard Roquette-Pinto (1884-1954), o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE) foi o primeiro órgão estatal brasileiro exclusivamente voltado para o cinema. Instituído em 1936 pelo Ministério da Educação e Saúde, manteve-se ativo até 1966. Seus filmes educativos visavam à formação popular através da divulgação de conhecimentos técnicos e científicos, e à promoção de uma identidade nacional com assuntos históricos, culturais e artísticos. Tais objetivos, ligados à ditadura do Estado Novo (1937-1945), também correspondiam a um anseio intelectual maior, que pôde ser observado, por exemplo, na extensa produção do cineasta Humberto Mauro (1897-1983) para o INCE.
Como diretor técnico do instituto, Humberto Mauro foi responsável pela maioria das suas realizações. Ao mesmo tempo, Mauro também pôde dar continuidade à sua própria obra, onde aspectos da identidade nacional e do folclore regional foram temas recorrentes. Como na longeva série Brasilianas, ainda hoje lembrada pelo apuro estético e notável repertório de representações cinematográficas da tradição popular, com títulos como Canções populares: chua... chua... A casinha pequenina (1945), Aboio e cantigas (1954), Cantos de trabalho (1955), Manhã na roça: o carro de bois (1956), A velha a fiar (1964), entre outros.
Em três décadas de regular atividade, o INCE compôs um extenso catálogo de filmes. A diversidade dos temas apresentados pode ser verificada em títulos como A balata (1936), feito a partir de um trecho do longa-metragem No paiz das Amazonas (1922), que retoma um discurso originalmente legitimador do domínio econômico da elite amazonense; O puraquê (1939) e Miocárdio em cultura (1942), que demonstram descobertas e avanços na ciência; O ensino industrial no Brasil (1947), que traz o discurso estado-novista da valorização do trabalho; Instituto de Puericultura Martagão Gesteira (1954) e Museu Nacional (1960), documentários que divulgam as práticas vigentes nas áreas de conhecimento das instituições que lhes dão os títulos; O café: história e penetração no Brasil (1958), realizado em colaboração com o Instituto Brasileiro do Café e o Museu do Café de Ribeirão Preto, e que ensina a importância econômica e cultural desse alimento para a formação histórica do Brasil; Inflação (1966), animação que explica o “caos monetário”, personificado na figura de uma bela e ameaçadora mulher; Fala Brasília (1966), onde sotaques de todas as regiões brasileiras dão a síntese de um país representado em sua nova capital; ou mesmo Linguagem da dança (1966), com o seu particular encontro entre a arte e a vida cotidiana. Títulos distintos entre si, mas que compõem um raro repositório audiovisual das evoluções, transformações e permanências históricas na sociedade brasileira.
Em 2010 a Cinemateca Brasileira e o Centro Técnico Audiovisual (CTAv) finalizaram o trabalho conjunto de recuperação dos filmes do INCE, sendo uma das primeiras ações no Banco de Conteúdos Culturais. As atividades consistiram em identificar os materiais e as melhores matrizes para recuperação dos filmes, processar laboratorialmente imagens e sons, e pesquisar e sistematizar cada obra, deixando acessíveis as informações de conteúdo na base de dados Filmografia Brasileira. Dos mais de 400 títulos produzidos e distribuídos pelo INCE, 218 podem ser assistidos on-line no Banco de Conteúdos Culturais.