SAI DA FRENTE

Sai da Frente é a primeira comédia da Companhia Cinematográfica Vera Cruz e a estreia de Mazzaropi no cinema. Com roteiro original e direção do dramaturgo do Teatro Brasileiro de Comédia, Abílio Pereira de Almeida, o filme foi lançado em junho de 1952, e se tornou o maior sucesso de bilheteria da companhia até então. 

Em 1951 a Vera Cruz, companhia fundada por Franco Zampari e Ciccilio Matarazzo em 1949 nos moldes dos estúdios estadunidenses, já apresenta sinais de crise. Com a saída de Alberto Cavalcanti da companhia, Abílio Pereira de Almeida - que já havia atuado nos três primeiros longa-metragens da Vera Cruz, mas ainda não contava com experiência na direção cinematográfica - assume a direção do 5º longa dos estúdios de São Bernardo. O roteiro havia sido escrito por ele mesmo, e junto a Tom Payne, coautor do argumento, estava em busca de um protagonista para o filme que deveria ser uma comédia popular e barata, que fizesse frente às chanchadas cariocas de Oscarito, Grande Otelo e Ankito. 

Com seus 38 anos em 1951, Amácio Mazzaropi já era nacionalmente conhecido, e acumulava uma carreira de mais de 20 anos na comédia popular. Seus personagens geravam identificação com o público, trabalhadores da cidade e do campo, desde o circo e teatro ambulante da “Troupe Mazzaropi” - que percorreu o interior do Brasil na década de 1930; passando por sua longa carreira na Rádio Tupi, iniciada em 1946, até o atual sucesso na recém-criada TV Tupi em São Paulo - onde apresentava seu programa “Rancho Alegre”. 

No início de 1951 a Vera Cruz chama Mazzaropi para um teste, e logo ele ganha o protagonismo no filme Sai da Frente. Pouco tempo depois, o “Mazza” já fazia parte do star system da Vera Cruz, com contrato assinado no mesmo valor pago ao galã Anselmo Duarte, para trocar a Atlântida pelos estúdios paulistas. 

Sai da Frente foi filmado no segundo semestre de 1951 com um orçamento menor que o das outras ficções da Vera Cruz. Abílio Pereira de Almeida conta, em entrevista à Maria Rita Galvão, que durante a montagem, o croata Oswald Hafenrichter “jogou metade do filme fora. (...) ele não entendia qual era a graça”. Apesar disso, após a exibição do filme para os dirigentes da Vera Cruz, antes mesmo de lançá-lo nos cinemas, a Companhia já iniciava a produção de um segundo filme com a mesma equipe e os mesmos personagens: Nadando em Dinheiro (1952). 

Em Sai da Frente, Mazzaropi interpreta Isidoro Colepícula, um personagem diferente do caipira pelo qual já era conhecido fora do cinema. Isidoro é um trabalhador urbano, que mora na periferia e trabalha como chofer de praça fazendo mudanças em um velho caminhão caindo aos pedaços, chamado Anastácio. No filme, que se passa em um único dia, Isidoro e seu acompanhante de sempre, o cão Coroné, precisam fazer a mudança de Eufrásio (A. C. Carvalho) e Dona Gata (Nieta Junqueira) de São Paulo para Santos. Nessa trajetória eles se perdem, se reencontram, e se metem em inúmeras confusões envolvendo burocratas, policiais, políticos, motoristas no trânsito, frequentadores de um bar e uma trupe de artistas de circo. 

Em 25 de junho de 1952, Sai da Frente estreou nos cinemas de São Paulo ocupando 12 salas. Na primeira semana, o público formou “filas compridíssimas (que) se estendiam por dezenas de metros no centro da cidade e nos bairros” como relata o Correio Paulistano. A crítica, de forma geral, reconheceu os objetivos do filme e o sucesso obtido entre a público. O Cine Repórter comenta que a Vera Cruz “saiu-se muito bem, porque o filme agradou plenamente. (…) Como o filme não tem outra pretensão senão a de fazer rir, o seu intento, pois, é logrado plenamente.” 

Sai da frente é percebido pela crítica como uma boa adaptação de Mazzaropi para as telas de cinema. Para o jornal Folha da Manhã “O popular ator de rádio conseguiu impor-se, não resta dúvida, tendo agora, diante de si, todas as possibilidades que o cinema lhe poderá oferecer”. E, antevendo sua longa carreira, “O ator Mazzaropi tem diante de si uma personagem cujas possibilidades cômicas, mercê de estilização, pode se tornar famosa no cinema”. 

 

Referências
BARSALINI, Glauco. Mazzaropi: o Jeca do Brasil. Campinas: Editora Átomo, 2002. 

DUARTE, Paulo. Mazzaropi: uma antologia de risos. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009. 

MARTINELLI, Sérgio. Vera Cruz: imagens e história do cinema brasileiro. São Paulo: Abooks, 2002. 

OLIVEIRA, Luiz Carlos Schroder de. Mazzaropi: a saudade de um povo. Londrina: CEDM, 1986. 

Correio Paulistano, 11.07.1952, p. 6, disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/090972_10/11827, acesso em: 14.05.2025. 

Cine Repórte: Semananário Cinematográfico, 13.09.1952, p.41, disponível em: http://memoria.bn.gov.br/docreader/085995/2544, acesso em: 14.05.2025.